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segunda-feira, 8 de março de 2010

A CIÊNCIA GREGA – Parte I


G..E.R. Lloyd, Early Greek Science: Thales to Aristoteles 
Costuma-se atribuir o início da ciência aos pensadores da cidade de Mileto (Ásia Menor, atual Turquia,), no sec. VI a.C. (esta cidade que foi destruída em 494 a.C. pelos persas). Em que sentido é correto afirmar isso?

Antes de tudo, devemos salientar que ocorreu um desenvolvimento semelhante e independente na China. A ciência nasceu duas vezes, pelo menos. Concentrando-nos porém no Ocidente, o que havia antes da ascensão das cidades-estado gregas?


1)    Tecnologia

Em 3000 a.C, já se estabelecera a metalurgia, a tecelagem e a cerâmica, assim como o uso da roda em veículos de transporte (adaptado da roda do ceramista). A agricultura, com suas técnicas de irrigação, domesticação de animais, preparação e preservação de alimentos, foi essencial para o surgimento de cidades. Além disso, a escrita surgiu em torno de 3500 a.C.

Tais desenvolvimentos técnicos implicam uma ciência? À medida que não envolvem uma teorização consciente, não. No entanto, tais desenvolvimentos certamente envolvem uma grande capacidade de observação e de aprendizado, que são essenciais na ciência.


2)    Medicina

A medicina nos antigos Egito e Mesopotâmia era dominada por magia e superstição. No entanto, um papiro egípcio (chamado "Edwin Smith") de 1600 a.C. (mas que se refere ao período anterior) relata 48 casos de cirurgia clínica, envolvendo ferimentos de guerra, cada qual apresentando exame, diagnóstico e tratamento, além de explicações de termos médicos.

3)    Astronomia e matemática

Boa parte do esforço astronômico se dirigia à elaboração de calendários, o melhor dos quais era o egípcio. No entanto, foi na Babilônia que a matemática e a astronomia mais avançaram. Os babilônios introduziram um sistema numérico com "valor posicional", como o nosso atual, só que na base 60 ao invés de na base 10. Já o sistema egípcio era como o romano, sendo inferior para certas operações, como as envolvendo frações.

Os babilônios registravam sistematicamente os acontecimentos celestes, como os aparecimentos e desaparecimentos do planeta Vênus, eclipses solares e lunares, além de fenômenos meteorológicos. Com isso, eram capazes de fazer algumas previsões astronômicas, baseadas em regularidades aritméticas (e não modelos geométricos do cosmo), como as de eclipses lunares (os solares são mais difíceis de prever).
Com este pano de fundo, o que os milésios como Tales, Anaximandro e Anaxímenes, além dos outros chamados "filósofos pré-socráticos", trouxeram de novo?

I)             A separação entre a natureza e o sobrenatural.

As explicações dos milésios não faziam referência a deuses ou forças naturais. Se na mitologia grega os terremotos tinham sua origem no deus dos mares (Poseidon), para Tales a explicação não envolvia deuses. Para ele, a terra boiava na água do oceano, e os terremotos teriam sua origem em grandes ondas e tremores marítimos.

II)            A prática do debate.

Os pensadores pré-socráticos discutiam criticamente as idéias de seus colegas e antecessores, muitas vezes em frente a uma platéia. Uma conseqüência disto é que diferentes explicações para um mesmo fenômeno natural passavam a competir entre si. O esforço para encontrar a melhor explicação levava a uma reflexão a respeito dos pressupostos, das evidências e dos argumentos a favor e contra teorias opostas.

Por que estas novidades surgiram numa cidade-estado grega no séc. VI a.C., e não em outro lugar ou em outra época? Uma contribuição decisiva foi dada pela organização política de cidades-estado como Mileto, Atenas e Corinto, onde os cidadãos participavam ativamente na escolha de membros do governo e na elaboração de leis.



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PARA PENSAR...

Para compreendermos a pequenez da nossa condição humana não precisamos olhar o céu estrelado, basta que consideremos as civilizações que existiram milhares de anos antes de nós,que foram grandes antes nós e antes de nós desapareceram. Cada novo achado representa um aprofundamento em novos conhecimentos, mas também significa muitas vezes que precisamos revisar antigos conceitos que aparentavam ser tão seguros.”

C.W. Ceram